Atlas da Violência mostra que, apesar da queda nos assassinatos entre 2013 e 2023, Brasil segue com uma das maiores taxas do mundo
Entre 2013 e 2023, o Brasil registrou uma queda de 20,3% no número de homicídios, segundo o Atlas da Violência, elaborado pelo Ipea em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Em 2023, o país contabilizou 45.747 assassinatos, contra 57.396 dez anos antes. Comparando com 2022, a redução foi de 1,4%. Desde 2017, o ano mais violento da série histórica, a queda acumulada chega a 30,2%. Apesar do recuo, o país ainda figura entre os mais letais do mundo, com uma taxa de 21,2 homicídios por 100 mil habitantes — a menor em mais de uma década, mas ainda alta em comparação global.
Os dados revelam que 17 estados brasileiros conseguiram reduzir suas taxas de homicídio entre 2022 e 2023, com destaque negativo para o Amapá, que teve alta expressiva de 88% em dez anos e mais de 40% em apenas um ano. O Rio de Janeiro, embora tenha registrado queda de 16% nos últimos 11 anos, voltou a ver aumento nas mortes violentas em 2023. Pernambuco também destoou, com alta de 18% na década. Por outro lado, Amazonas e Bahia, que apresentavam altos índices, conseguiram diminuir os homicídios por dois anos consecutivos.
Os pesquisadores do estudo apontam que fatores como o envelhecimento da população, acordos entre facções criminosas e mudanças na política de segurança pública em estados-chave têm contribuído para a redução das mortes. A chamada transição demográfica, iniciada no Sul e Sudeste e agora em curso no Norte e Nordeste, deve ajudar a manter essa tendência de queda nos próximos anos, já que jovens entre 15 e 29 anos, os mais afetados pela violência, estão diminuindo em número.
Em 2023, quase metade das vítimas de homicídio no Brasil estavam nessa faixa etária, sendo 94% homens. O estudo também aponta uma desigualdade racial significativa: a taxa de homicídios entre pessoas negras foi quase três vezes maior (28,9 por 100 mil habitantes) do que entre os demais grupos (10,6 por 100 mil). Essa disparidade reforça a necessidade de políticas específicas para combater a violência em comunidades mais vulneráveis.
Além dos fatores demográficos, o estudo destaca uma mudança de abordagem nos estados mais bem-sucedidos: o abandono do policiamento exclusivamente ostensivo e a adoção de estratégias baseadas em inteligência, gestão por resultados e ações preventivas integradas. Segundo os pesquisadores, esse modelo tem se mostrado mais eficaz para enfrentar a criminalidade de forma sustentável. Os dados utilizados no relatório são baseados no Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde, o que pode explicar divergências em relação a estatísticas criminais de secretarias estaduais.