Críticas internas, rejeição ao perfil diplomático e apoio latino-americano definiram o rumo da eleição papal de 2025
O cardeal italiano Pietro Parolin, inicialmente tido como um dos principais nomes para suceder o papa Francisco, viu sua candidatura perder tração ainda durante o período das congregações gerais. Apesar de seu prestígio internacional como diplomata da Santa Sé e do cargo central que ocupou por mais de uma década como secretário de Estado do Vaticano, Parolin enfrentou crescente resistência entre os cardeais, especialmente daqueles que defendiam um papa com sólida vivência pastoral.
O ponto de virada ocorreu nos momentos finais das congregações, quando o cardeal americano Raymond Leo Burke, figura influente e conservadora, fez duras críticas públicas ao acordo firmado entre o Vaticano e a China sobre a nomeação de bispos. Mesmo sem mais direito à inscrição, Burke foi autorizado a falar e atacou diretamente Parolin, responsável por negociar o pacto com o regime de Xi Jinping. Ele apontou a falta de transparência e o sigilo dos termos como inaceitáveis, o que abalou ainda mais a já fragilizada candidatura do italiano.
O acordo com a China, assinado em 2018, previa que o governo chinês poderia sugerir nomes para o episcopado, mas a palavra final caberia ao papa. Na prática, porém, o governo chinês manteve forte influência sobre as nomeações e continuou reprimindo a Igreja Católica no país. As críticas de Burke, que tocaram num ponto sensível e estratégico da Igreja, ecoaram entre os cardeais e aceleraram o esvaziamento do apoio a Parolin.
Nos dias que antecederam a votação, ficou evidente que muitos cardeais buscavam um perfil diferente: alguém com experiência pastoral direta, que conhecesse a realidade das comunidades eclesiais de base. Parolin, apesar de seu currículo diplomático, nunca liderou uma diocese como bispo titular, o que se tornou um fator decisivo contra sua candidatura. Enquanto isso, o nome do cardeal americano Robert Francis Prevost ganhava força, especialmente entre os cardeais latino-americanos e italianos, que já articulavam apoio a sua eleição na Casa Santa Marta na véspera do conclave.
Com esse cenário, o conclave foi rápido. Já no primeiro escrutínio, Prevost apareceu com força, e nas votações seguintes consolidou-se como o favorito. No segundo dia, 8 de maio, ele foi eleito com mais de 100 votos, superando com folga os dois terços exigidos entre os 133 cardeais votantes. Seu trabalho como bispo no interior do Peru, o domínio do espanhol e o posto de prefeito do Dicastério para os Bispos em 2023 contribuíram para sua aceitação como uma figura de liderança global e sensível às realidades do sul global.
A eleição de Prevost como papa Leão XIV reflete o desejo dos cardeais por um líder com raízes pastorais sólidas, visão internacional e capacidade de diálogo. Apesar de ser americano, sua atuação na América Latina foi vista como um diferencial, e sua fluência em idiomas, inclusive o espanhol, facilitou seu trânsito entre diferentes blocos dentro do colégio cardinalício. Com isso, a rejeição ao nome de Parolin se confirmou como um fator determinante para a rápida definição do novo pontífice.