Técnico Roberval Davino critica exageros teóricos no futebol moderno e defende simplicidade nos conceitos: “Tem jogador que nem sabe português, como vai entender tudo isso?”
Aos 70 anos, o técnico Roberval Davino, atualmente no comando do Comercial de Ribeirão Preto, voltou a ser notícia ao abordar com franqueza um tema que, segundo ele, distancia o futebol da realidade: o excesso de teorias e termos técnicos nos bastidores do jogo. Em tom bem-humorado, ele disparou: “Hoje, se o jogador acertar o passe eu já bato palma”, em crítica ao uso exagerado de conceitos complexos em treinamentos, muitas vezes incompreensíveis para atletas com pouca formação escolar.
Davino, que soma quatro décadas na beira do campo, lembra que muitos jogadores brasileiros enfrentam dificuldades educacionais desde cedo, o que torna a linguagem sofisticada do futebol moderno quase inacessível. “Tem muita terminologia, mas muitos jogadores nem vão à escola. Temos um país em que os analfabetos são inúmeros, principalmente no futebol, porque têm que sustentar a família cedo. Aí já tem empresário. Se não sabe nem o português, como vai entender essas coisas que tem por aí?”, questionou o treinador, refletindo sobre a origem social dos atletas.
Em uma de suas experiências em curso da CBF, Roberval conta que ouviu orientações altamente técnicas que, para ele, destoam da realidade do campo. “Falaram que tinha que sair do ponto A para o ponto B, fazer uma perpendicular, depois um cruzamento em parábola para dar na cabeça do cara se ele subir 50 centímetros. Tem que estudar física!”, ironizou. “Meu amigo, se o jogador acertar o passe eu já bato palma. Vou querer saber se ele é canhoto ou destro?”, completou, valorizando a objetividade no jogo.
Apesar das críticas, o treinador ressalta que valoriza o conhecimento teórico, mas defende equilíbrio. “A teoria é excelente, o conteúdo é fantástico e tiro muito proveito disso. Mas o futebol precisa ser simples. E dentro das minhas limitações, procuro ser útil”, afirmou. Para ele, é preciso adaptar a linguagem e as expectativas à realidade dos atletas e dos clubes, especialmente em contextos mais modestos como o do Comercial.
Mesmo com a idade avançada, Davino segue ativo e motivado, encarando convites não pelo status ou salário, mas pelo vínculo emocional. “Vim com a ideia de ser útil e dar estrutura dentro de campo. Esse prazer de ser treinador também mexe comigo e está no sangue”, finalizou. Com humildade e humor, ele resume seu papel na atual fase da carreira: “Até brinco que quando está mal, é só chamar o Roberval.”