Farmácias brasileiras iniciam venda de eletrocardiograma doméstico

O primeiro eletrocardiograma de uso doméstico já está disponível nas farmácias do Brasil. Nomeado Complete, o dispositivo foi desenvolvido pela multinacional japonesa Omron Healthcare e apresentado em congressos de cardiologia nos Estados Unidos e no Brasil. Nas redes de drogarias como Pague Menos, Sinete, Extrafarma, São Paulo e Pacheco, o aparelho é vendido por aproximadamente R$ 1.500.

O equipamento realiza eletrocardiogramas e mede a pressão arterial simultaneamente, sendo fácil de usar por qualquer pessoa. O resultado, que não substitui um laudo médico, é enviado ao médico em cerca de 30 segundos após a utilização, desde que o aplicativo adequado seja baixado.

A ideia para a criação do aparelho surgiu de uma recomendação da Sociedade Europeia de Cardiologia, que, em 2021, sugeriu a realização de eletrocardiogramas diários para pacientes acima de 65 anos, especialmente devido à fibrilação atrial, uma condição que afeta mais de 5 milhões de brasileiros.

Essa doença, caracterizada por batimentos cardíacos irregulares, eleva o risco de AVC em indivíduos não diagnosticados. Os principais sinais de alerta incluem arritmias, e entre 14% a 22% dos casos estão relacionados à hipertensão.

A fibrilação atrial é três vezes mais comum em pessoas com hipertensão, e estudos mostram que hipertensos com mais de 65 anos têm três vezes mais probabilidade de desenvolver essa condição em comparação aos que possuem pressão arterial normal. Além disso, esses pacientes têm cinco vezes mais chances de sofrer um AVC.

Hipertensão arterial: Um inimigo silencioso e perigoso

Mais conhecida como pressão alta, a hipertensão arterial atinge cerca de 27,9% da população brasileira, de acordo com dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) 2023. Ainda segundo o levantamento do Vigitel, a prevalência do diagnóstico médico é maior entre mulheres (29,3%) do que entre homens (26,4%) nas 27 capitais brasileiras. Entretanto, em ambos os sexos, a frequência aumentou com a idade e diminuiu com o nível de escolaridade. 

Com o objetivo de conscientizar a população brasileira sobre a importância do diagnóstico preventivo e tratamento adequado, a data 26 de abril ficou conhecida como o Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão Arterial, instituído pela Lei 10.439/2002. 

A hipertensão arterial é uma condição crônica multifatorial, geralmente não associada a sintomas, caracterizada por elevação sustentada dos níveis de pressão (≥ 140 mmHg e/ou ≥ 90 mmHg). É considerada um dos fatores de risco metabólico que mais contribuem para todas as causas de óbito e para a morbidade e mortalidade por doença cardiovascular (DCV). Por se tratar de um mal silencioso, podem ou não ocorrer sintomas. Quando estes aparecem, os principais são: tontura, falta de ar, palpitações, dor de cabeça frequente e alteração na visão.  

“A hipertensão arterial sistêmica é considerada uma doença crônica não transmissível, como também um fator de risco para a ocorrência de outras doenças cardiovasculares. Ações de prevenção e promoção da saúde, como práticas de atividades físicas, consumo de alimentos saudáveis, cessação do tabagismo, manejo do estresse, melhoria da qualidade do sono e redução do consumo de álcool, são estratégias essenciais para o bem-estar e a saúde integral das pessoas”, ressalta a substituta eventual da Coordenação-Geral de Prevenção às Condições Crônicas na Atenção Primárias à Saúde, Élem Sampaio. 

Alimentação adequada e saudável 

A hipertensão arterial não tem cura, mas pode ser evitada. O Ministério da Saúde, por meio do Departamento de Prevenção e Promoção à Saúde (Deppros), alerta para a importância da adoção de um estilo de vida saudável como fundamental para a prevenção de doenças crônicas como a pressão alta. 

De acordo com a nutricionista e consultora técnica da Coordenação-Geral de Alimentação e Nutrição, Gleyce Araújo, a alimentação é um dos fatores determinantes para a ocorrência de hipertensão. “É importante que a rotina alimentar contemple alimentos in natura e minimamente processados, conforme orienta o Guia Alimentar para a População Brasileira”, explica Gleyce. 

Evitar alimentos ultraprocessados e aumentar o consumo de frutas, verduras, legumes, carnes e cereais integrais, além da escolha por temperos naturais para reduzir o uso de sal de adição nas preparações culinárias, também são importantes para desenvolver uma alimentação saudável e adequada. 

Uma série de ações estratégicas é implementada pelo ministério por meio da Política Nacional de Alimentação (Pnan), mediante a promoção de práticas alimentares adequadas e saudáveis, a vigilância alimentar e nutricional, a prevenção e o cuidado integral dos agravos relacionados à alimentação e nutrição. 

Além disso, a pasta tem priorizado o apoio à implementação e ao monitoramento da nova rotulagem nutricional dos alimentos embalados (Resolução 429/2020 da Anvisa), que torna obrigatória a inclusão de um selo de advertência frontal (lupa) alertando sobre a presença de alto teor de sódio, açúcar e gordura saturada, considerados “nutrientes críticos” e cujo consumo em excesso pode levar ao desenvolvimento de doenças crônicas como obesidade, diabetes, hipertensão e demais agravos crônicos. 

Saúde e movimento 

Além da alimentação adequada e saudável, a atividade física é uma aliada essencial na prevenção de doenças crônicas, como o diabetes, que podem aumentar a chance de desenvolvimento de pressão alta e doenças do coração. Também auxilia no controle do peso e diminui a chance de desenvolvimento de alguns tipos de cânceres. 

“A prática regular de atividades físicas é parte primordial das condutas não medicamentosas de prevenção e tratamento da hipertensão arterial. A prática regular de atividades físicas de lazer, principalmente vigorosas, reduz em aproximadamente 30% o risco de desenvolvimento da HA. O treinamento aeróbico reduz a pressão alta clínica sistólica/diastólica de hipertensos em cerca de 7/5 mmHg, além de diminuir a pressão alta de vigília e em situações de estresse físico e mental”, afirma a profissional de educação física e consultora técnica do Núcleo de Promoção da Atividade Física (Nupaf), Deisy Terumi. 

Além da prevenção, a atividade física também auxilia no tratamento de quem já apresenta um quadro de hipertensão arterial. “Segundo diretrizes nacionais e internacionais, todos os pacientes hipertensos devem fazer exercícios aeróbicos complementados pelos resistidos, como forma isolada ou complementar ao tratamento medicamentoso. Quanto mais cedo a atividade física é incentivada e se torna um hábito na vida, maiores os benefícios para a saúde”, complementa a consultora técnica do Nupaf. 

Ações estratégicas também são desenvolvidas em todo o território nacional pela pasta para criação de ambientes propícios para escolhas saudáveis e acessíveis, como os programa de Incentivo Financeiro de Atividade Física (IAF), da Academia da Saúde (PAS) e ferramentas tecnológicas para a comunicação e educação em saúde e atividade física. 

Além disso, o ministério disponibiliza o Guia de Atividade Física para a População Brasileira, publicado em 2021, com recomendações para estimular a redução do comportamento sedentário nos diferentes ciclos de vida, em gestantes e mulheres no pós-parto, em pessoas com deficiência e na educação física escolar.