Censo revela dados inéditos sobre TEA; maioria dos diagnósticos está entre homens e adultos
O Censo Demográfico 2022 trouxe pela primeira vez dados sobre o transtorno do espectro autista (TEA) no Brasil. Em Ribeirão Preto, foram identificadas 8.738 pessoas com diagnóstico, o que representa 1,3% da população do município. A divulgação foi feita pelo IBGE na última sexta-feira (23), juntamente com informações sobre pessoas com deficiência em todo o país.
Segundo a psicóloga e psicopedagoga Milena de Andrade, o aumento no número de diagnósticos pode ser reflexo de maior conhecimento da população e avanços nos critérios médicos.
“O aumento no número de diagnósticos de TEA tem muito a ver com a maior conscientização sobre o transtorno, que vem crescendo bastante nos últimos anos — inclusive com a ajuda de movimentos nas redes sociais. As pessoas estão mais informadas, e isso faz com que fiquem mais atentas aos sinais e sintomas, o que facilita a busca por ajuda”, explicou.
Ela também destacou o impacto positivo de campanhas educativas e da formação contínua de profissionais.
“Também é importante destacar o papel da formação contínua de profissionais da saúde e da educação, além das campanhas informativas, que têm sido fundamentais para que os casos sejam identificados cada vez mais cedo.”
A maior parte dos diagnósticos em Ribeirão Preto ocorre entre homens (4.753), número superior ao de mulheres (3.985). Para Milena, isso segue uma tendência global.
“Existem evidências de que fatores biológicos, como questões genéticas e hormonais, influenciam bastante, mas não dá pra ignorar o papel dos fatores sociais. Muitas vezes, as meninas apresentam sintomas mais sutis ou aprendem a ‘camuflar’ esses sinais no dia a dia, o que acaba dificultando o diagnóstico e, em muitos casos, atrasando esse processo.”
O Censo também apontou disparidades raciais: a maioria dos diagnosticados são brancos (5.727), seguidos por pardos (2.390), pretos (571) e amarelos (51). Não houve registros entre indígenas.
“Essa diferença nos diagnósticos pode, sim, refletir desigualdades no acesso à saúde e ao cuidado. Existem vários fatores que influenciam isso, como questões socioeconômicas, culturais e até mesmo a falta de visibilidade de certos grupos. […] Também é fundamental ampliar os serviços de saúde em regiões mais afastadas ou com menos recursos.”
A nível nacional, o Censo identificou 2,4 milhões de pessoas com TEA — cerca de 1,2% da população brasileira. A faixa etária com maior incidência é de 5 a 9 anos. Para a especialista, os dados representam um avanço importante.
“Com essas informações mais concretas, fica muito mais fácil direcionar recursos, criar programas específicos e pensar ações que realmente atendam essa população. Isso só foi possível graças à Lei nº 13.861, de 2019, que tornou obrigatória a coleta desses dados.”