Entenda como o Brasil está combatendo a Leucemia com transplantes de medula óssea

O Brasil enfrenta um desafio significativo na luta contra doenças hematológicas, como a leucemia, que afeta os glóbulos brancos do sangue e é o décimo câncer mais comum no país. Em 2024, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) prevê cerca de 11.540 novos casos de leucemia. Embora algumas condições sanguíneas possam ser gerenciadas com dieta adequada, outras, como a leucemia, necessitam de tratamentos mais complexos, incluindo transplantes de medula óssea.

De acordo com Dr. Leandro Felipe Figueiredo Dalmazzo, vice-presidente médico do Grupo GSH, o tratamento da leucemia pode incluir medicamentos, quimioterapia e radioterapia. No entanto, em casos mais graves, como leucemia aguda e mieloide crônica, um transplante de medula óssea pode ser necessário.

Este procedimento consiste em substituir a medula óssea doente por células-tronco saudáveis, que podem ser obtidas do próprio paciente (transplante autólogo) ou de um doador compatível (transplante alogênico).

“O processo de transplante de medula óssea começa pela identificação de um doador compatível, que passa por vários testes para que, então, suas células-tronco hematopoiéticas sejam coletadas da medula óssea, do sangue periférico ou do cordão umbilical”, esclarece dr. Leandro.

Essas células podem ser coletadas da medula óssea, do sangue periférico ou do cordão umbilical. Após a coleta, o tratamento do receptor envolve a destruição da medula óssea doente através de quimioterapia ou radioterapia, seguida pela infusão das células-tronco saudáveis para restaurar a produção normal de células sanguíneas.

Atualmente, o Brasil conta com mais de 5,7 milhões de doadores de medula óssea cadastrados no Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME). No entanto, cerca de 650 pacientes ainda aguardam uma doação.

Dr. Leandro observa que encontrar um doador compatível fora do círculo familiar é desafiador, com uma chance de um em 100 mil. “Quanto mais voluntários tivermos para essas doações, mais chance de encontrar um doador compatível para esses pacientes”, conclui.

Leucemia ocupa a décima posição entre os cânceres com maior incidência no Brasil

Reforçando a importância da conscientização e diagnóstico precoce de doenças relacionadas ao sangue, a Campanha Junho Laranja em especial, alerta para a leucemia.
 

Sem considerar os tumores de pele não melanoma, a leucemia ocupa atualmente a décima posição entre os tipos de câncer mais frequentes no Brasil. Somente na região Sudeste, a doença deve atingir uma taxa de 4,20 pessoas a cada 100 mil habitantes, sendo a 11ª mais recorrente entre os homens e a 9ª entre as mulheres dessa região.
 

A neoplasia se trata de uma doença maligna dos glóbulos brancos que tem como principal característica o acúmulo de células doentes na medula óssea, que substituem as células sanguíneas normais. A conscientização e o diagnóstico precoce, podem ser fundamentais para que o tratamento seja bem-sucedido.
 

Existem mais de 12 tipos de leucemia, sendo os quatro primários leucemia mieloide aguda (LMA), leucemia mieloide crônica (LMC), leucemia linfocítica aguda (LLA) e leucemia linfocítica crônica (CLL). De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a neoplasia é a mais frequente em crianças e uma das mais comuns no mundo. Até 2025, o Brasil deve registrar 34,6 mil novos casos da doença.
 

As leucemias podem ser agrupadas com base na velocidade em que a doença evolui e torna-se grave.  Sob esse aspecto, a doença pode ser do tipo crônica (que geralmente agrava-se lentamente) ou aguda (que costuma piorar de maneira rápida). 
 

“Na leucemia crônica no início da doença, as células leucêmicas ainda conseguem fazer algum trabalho dos glóbulos brancos normais. Quando surgem, os sintomas são brandos, agravando-se gradualmente. Na leucemia aguda as células leucêmicas não podem fazer nenhum trabalho das células sanguíneas normais. O número de células leucêmicas cresce de maneira rápida e a doença agrava-se num curto intervalo de tempo.”, explica Sarah Cristina Bassi, hematologista da Oncoclínicas Ribeirão Preto.
 

A médica destaca que em crianças e adultos jovens, normalmente a condição aguda é mais frequente. Já em pacientes acima dos 50 anos predominam as leucemias crônicas. “Exceto a LLA, quanto mais avançada a idade, maior o risco de desenvolver leucemia. Outros fatores de risco são tabagismo, tratamento prévio com radioterapia ou alguns quimioterápicos, histórico familiar, algumas síndromes genéticas como síndrome de Down, síndrome mielodisplásica e outras desordens sanguíneas”, completa.
 

Estar atento aos primeiros indícios da doença pode ser fundamental para o diagnóstico precoce, aumentando as chances de um tratamento bem-sucedido. “Vale ficar alerta a sintomas como:  gânglios linfáticos inchados, sem dor, principalmente na região do pescoço e das axilas; febre ou suores noturnos; perda de peso sem motivo aparente; desconforto abdominal e dores nos ossos e nas articulações”, comenta Sarah.
 

A hematologista ressalta ainda, que o acúmulo de células defeituosas na medula óssea, é responsável por alguns outros sintomas. “Com a diminuição dos glóbulos vermelhos, por exemplo, o paciente desenvolve anemia, cujos sintomas são: fadiga, falta de ar, palpitação, dor de cabeça, entre outros. Já quando ocorre a redução dos glóbulos brancos, provoca baixa na imunidade, deixando o organismo mais sujeito a infecções. E a diminuição das plaquetas causa sangramentos, sendo os mais comuns das gengivas e do nariz”, completa a médica.

Diagnóstico 


Diante de sintomas ou suspeita de leucemia, devem ser realizados exames de sangue para avaliação médica específica. “O principal desses exames é o hemograma completo, que, em caso positivo, apresentará alterações nos leucócitos. Já a confirmação do diagnóstico é feita com o mielograma, que é o exame da medula óssea, onde uma pequena quantidade de sangue é retirada do material esponjoso de dentro do osso para análise”.

Tratamento

O tratamento de leucemia tem como objetivo destruir as células doentes, para que a medula óssea volte a produzir células normais.

“Além da quimioterapia, podem ser utilizadas transfusões de sangue como complemento. Nos últimos anos, a terapia-alvo, que utiliza medicamentos específicos para as células doentes, também tem se mostrado eficaz para alguns tipos de leucemia, como a leucemia mieloide crônica. Pacientes que não respondem satisfatoriamente a essas opções podem passar pelo transplante de medula óssea”. 

Prevenção
 

Sarah Bassi explica que, diferentemente de outros tipos de câncer, grande parte dos pacientes que desenvolvem leucemia não apresentam nenhum fator de risco conhecido que possa ser modificado ou evitado. “Fica o alerta para que, diante da suspeita de um quadro de leucemia, o paciente procure imediatamente um hematologista e realize exames para avaliação médica específica”, finaliza.

Foto – Divulgação