Personalidade e insônia: Estudo da USP revela conexões importantes

Pesquisa investiga como traços de personalidade influenciam o desenvolvimento da insônia

Um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP) revelou que os traços de personalidade podem ter uma relação direta com o desenvolvimento e a perpetuação da insônia. A pesquisa, publicada no Journal of Sleep Research, indicou que pessoas com altos índices de neuroticismo — caracterizadas por uma instabilidade emocional — apresentam maior prevalência de distúrbios de sono. Por outro lado, indivíduos com alta abertura à experiência, uma característica associada à curiosidade e à criatividade, tendem a ter menos dificuldades para dormir.

A pesquisa foi conduzida pela psicóloga do sono Bárbara Araújo Conway, mestranda do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, com orientação da professora Renatha El Rafihi-Ferreira. O estudo, apoiado pela FAPESP, teve como foco investigar como os traços de personalidade podem influenciar a insônia, um transtorno que afeta cerca de 30% da população mundial e tem impacto significativo na saúde física e mental das pessoas.

Insônia no Brasil e a Relação com a Personalidade

No Brasil, especialmente em São Paulo, a prevalência da insônia é ainda mais alarmante, afetando cerca de 45% dos paulistanos, de acordo com o Estudo Epidemiológico do Sono (Episonoi). A insônia pode causar uma série de complicações de saúde, incluindo hipertensão, diabetes, ansiedade e depressão, o que prejudica gravemente a qualidade de vida. Por isso, entender os fatores que contribuem para o transtorno é essencial para tratar e prevenir esse problema.

Para examinar melhor essa relação, os pesquisadores usaram a teoria dos “3 Ps” da insônia — predisposição, precipitação e perpetuação — e analisaram o impacto do neuroticismo como um fator predisponente ao transtorno. A pesquisa investigou ainda como a ansiedade e a depressão poderiam atuar como mediadores entre o neuroticismo e a insônia, ajudando a explicar como traços de personalidade específicos podem influenciar a qualidade do sono.

Traços de Personalidade e Seus Efeitos no Sono

O estudo se baseou na teoria dos “Big Five” (Cinco Grandes) da psicologia, que define cinco traços fundamentais de personalidade: extroversão, neuroticismo, amabilidade, abertura à experiência e conscienciosidade. Cada um desses traços foi avaliado para entender sua relação com a insônia. De acordo com a pesquisa, indivíduos com alto neuroticismo — mais propensos a focar em aspectos negativos da vida e com maior instabilidade emocional — apresentaram índices mais altos de insônia. Já aqueles com maior abertura à experiência e maior amabilidade apresentaram menores níveis de insônia.

Curiosamente, a extroversão não mostrou diferença significativa entre os grupos de pessoas com e sem insônia, sugerindo que a tendência a ser mais sociável ou introvertido não tem um impacto tão claro sobre o sono quanto outros traços de personalidade, como o neuroticismo.

Metodologia e Resultados da Pesquisa

A pesquisa envolveu 595 participantes, com idades entre 18 e 59 anos, divididos em dois grupos: um grupo de pacientes com insônia diagnosticada e outro grupo-controle, composto por indivíduos sem queixas de sono. Para medir os níveis dos cinco traços de personalidade, foi utilizado um questionário específico da psicologia, que ajudou a identificar os índices de neuroticismo, amabilidade, abertura, conscienciosidade e extroversão.

Os resultados mostraram que os pacientes com insônia apresentaram níveis significativamente mais altos de neuroticismo e mais baixos de amabilidade, abertura e conscienciosidade, em comparação aos participantes sem insônia. Esses achados indicam uma forte associação entre o neuroticismo e a insônia, sugerindo que a instabilidade emocional pode contribuir para o desenvolvimento do transtorno do sono.

Ansiedade Como Fator Mediatizador

Em uma análise mais aprofundada, os pesquisadores descobriram que a ansiedade desempenha um papel mediador entre o neuroticismo e a insônia. Ou seja, a ansiedade parece ser um dos principais mecanismos que faz com que indivíduos com altos níveis de neuroticismo desenvolvam problemas relacionados ao sono. Este achado pode abrir portas para novas abordagens terapêuticas, que tratem tanto a ansiedade quanto os traços de personalidade como fatores que influenciam a insônia.

O estudo destaca a importância de considerar os traços de personalidade ao abordar o tratamento de distúrbios do sono. Isso pode levar a uma compreensão mais profunda sobre como os fatores psicológicos afetam o sono e, consequentemente, a saúde mental e física dos indivíduos.

Remédios para insônia podem causar demência, de acordo com pesquisa

A relação entre medicamentos para induzir o sono e o risco de demência tem sido amplamente estudada. Uma pesquisa recente conduzida pela Universidade da Califórnia revelou que o uso desses medicamentos pode elevar o risco de demência, especialmente entre pessoas brancas.

DETALHES DO ESTUDO

Os resultados do estudo foram publicados no Journal of Alzheimer’s Disease em 31 de janeiro de 2023. A pesquisa analisou dados de cerca de 3.000 idosos sem diagnóstico de demência, acompanhando-os por uma média de nove anos. A idade média dos participantes era de 74 anos, com 58% sendo brancos e 42% negros. Durante o estudo, 20% dos participantes desenvolveram demência.

Os resultados mostraram que brancos que usaram medicamentos para dormir “frequentemente” ou “quase sempre” apresentaram um risco 79% maior de desenvolver demência em comparação com aqueles que “nunca” ou “raramente” usaram esses medicamentos. Entre os participantes negros, que usaram soníferos com menos frequência, a probabilidade de desenvolver demência não mostrou diferença significativa entre usuários frequentes e aqueles que evitavam o uso.

DADOS SOBRE O USO DO MEDICAMENTO PARA DORMIR

Os pesquisadores notaram que os brancos eram três vezes mais propensos a usar medicamentos para dormir “frequentemente” – de cinco a 15 vezes por mês – em comparação com os negros. Além disso, os brancos tinham quase o dobro da probabilidade de usar benzodiazepínicos, como Halcion (triazolam), Dalmadorm (flurazepam) e Restoril (temazepam), que são prescritos para insônia crônica. Eles também tinham 10 vezes mais probabilidade de tomar trazodona (Desyrel e Oleptro) e sete vezes mais chance de usar “drogas Z”, como o zolpidem.

CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÃO

Os pesquisadores concluem que mais estudos são necessários para entender completamente os riscos cognitivos associados a esses medicamentos. Enquanto isso, eles recomendam que as pessoas evitem o uso de medicamentos para dormir quando possível.

ALTERNATIVAS PARA TRATAR A INSÔNIA

Para combater a insônia sem recorrer a remédios, é crucial estabelecer uma rotina de sono regular, indo para a cama e acordando sempre nos mesmos horários. Criar um ambiente de sono ideal – com um quarto escuro, silencioso e em uma temperatura confortável – é igualmente importante.

Evitar cafeína e grandes refeições perto da hora de dormir pode ajudar, assim como a prática de técnicas de relaxamento, como meditação ou respiração profunda, antes de deitar. Limitar o uso de dispositivos eletrônicos pelo menos uma hora antes de dormir também é recomendado, pois a luz azul das telas pode interferir na produção de melatonina, o hormônio do sono.

Além disso, a prática regular de exercícios físicos pode melhorar a qualidade do sono, desde que não sejam realizados muito perto da hora de dormir. Se os problemas persistirem, é aconselhável buscar a orientação de um especialista em sono.

Insônia colabora para a queda da imunidade do corpo

A dificuldade de dormir, conhecida como insônia, é bastante comum. Afeta cerca de 30% a 35% das pessoas em todo o mundo, sendo mais frequente entre mulheres após a puberdade. Estudos mostram que aproximadamente 75% dos pacientes com depressão têm problemas para dormir.

Ter um sono de má qualidade prejudica a imunidade. Durante o sono, o corpo se recupera e regula o metabolismo, o que é essencial para um funcionamento saudável. Isso é destacado por Frederico Lacerda, médico neurologista e professor na Faculdade Pitágoras Eunápolis.

“Lentificação psíquica, fadiga, olheiras e sonolência diurna, são resultados de uma noite mal dormida. Esse cansaço pode provocar ainda perda de memória de curto prazo, obesidade, envelhecimento precoce, diabetes, ansiedade, hipertensão e falta de apetite, entre outros”, cita o especialista.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 40% das pessoas não estão satisfeitas com seu sono. Noites mal dormidas causam cansaço, falta de concentração e comprometimento cognitivo. Além disso, a insônia pode aumentar o risco de Alzheimer e outras doenças cerebrais.

Estudos em pessoas saudáveis mostraram que aquelas com insônia têm mudanças no cérebro semelhantes às encontradas nos estágios iniciais do Alzheimer.

A falta de sono adequado causa diversos problemas, como lentidão mental, fadiga, olheiras e sonolência. Pode também levar a problemas de memória, obesidade, envelhecimento precoce, diabetes, ansiedade, hipertensão e perda de apetite, entre outros.

Para melhorar o sono, o médico sugere:

  • Criar um ambiente escuro para dormir.
  • Desligar eletrônicos como TV, celular e computador uma hora antes de dormir.
  • Evitar cafeína à noite.
  • Reduzir atividades estimulantes à noite.
  • Praticar exercícios diariamente, de preferência durante a manhã.
  • Evitar cochilos e substâncias estimulantes.
  • Usar a cama somente para dormir, não para outras atividades.
  • Se não conseguir dormir, fazer algo entediante, como ler um livro chato, longe da cama.