A Conferência de Munique discutiu o futuro da Ucrânia, com Zelensky destacando a importância de sua inclusão nas negociações de paz.
O futuro da Ucrânia foi o principal tema da Conferência de Segurança de Munique (MSC), que ocorreu logo após uma conversa inesperada entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin. Durante a ligação, ambos concordaram em iniciar negociações para encerrar o conflito na Ucrânia. Trump classificou o telefonema como “ótimo” e afirmou que havia uma “boa chance” de pôr fim à guerra, destacando seu caráter sanguinário e destrutivo. No entanto, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, alertou que a Ucrânia não pode ser excluída das negociações de paz.
Os aliados europeus, por outro lado, ficaram surpresos com o teor da conversa entre os líderes, especialmente o presidente francês, Emmanuel Macron, que advertiu que qualquer acordo de paz que envolvesse a submissão da Ucrânia à Rússia seria prejudicial para todos os envolvidos. Apesar da aparente aproximação, ainda não está claro quando as negociações começarão, mas questões como a disputa territorial, segurança e o futuro da Ucrânia na OTAN serão pontos cruciais nas discussões.
Atualmente, a Rússia controla cerca de 20% do território ucraniano, especialmente no leste e sul do país. Após a derrubada do governo pró-Rússia em 2014, a Rússia anexou a Crimeia e passou a apoiar separatistas em Donetsk e Luhansk, levando a uma guerra prolongada. Com a invasão em larga escala em 2022, Moscou tentou tomar Kiev, mas foi impedida. Desde então, as forças russas ampliaram seu controle, enquanto a Ucrânia, com apoio militar dos EUA e da Europa, resistiu com sucesso a várias ofensivas e até recuperou parte do território.
A Ucrânia insiste que qualquer acordo de paz deve incluir a retirada total das tropas russas, incluindo da Crimeia, Donetsk e Luhansk. Zelensky reafirmou essa posição durante a MSC, afirmando que seu país jamais reconheceria territórios ocupados como parte da Rússia. Por outro lado, Moscou formalizou a anexação de mais quatro regiões ucranianas em 2022 e exige que esses territórios sejam reconhecidos como parte da Rússia, embora não controle completamente todas as áreas nessas regiões. Zelensky sugeriu, em uma entrevista ao “The Guardian”, que poderia haver um intercâmbio de territórios, com a Rússia cedendo o controle das áreas ocupadas em troca da Ucrânia devolver territórios tomados na Rússia, mas o Kremlin rejeitou a ideia.
Além do impasse territorial, um outro grande ponto de discórdia é a adesão da Ucrânia à OTAN. A Ucrânia considera que a aliança militar ocidental é essencial para sua segurança, especialmente após a invasão russa. No entanto, a Rússia se opõe firmemente a essa adesão, temendo que a presença da OTAN nas fronteiras russas represente uma ameaça direta. Zelensky, por sua vez, afirmou que a adesão à OTAN seria a opção mais econômica e segura para a Ucrânia, além de ser crucial para a proteção de todo o continente europeu. A OTAN, por sua vez, já manifestou apoio à ideia de que a Ucrânia deve se tornar membro da aliança no futuro, mas as declarações do novo secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, indicam que a adesão da Ucrânia à OTAN pode não ser uma meta viável em um acordo de paz.
Se a Ucrânia não conseguir ingressar na OTAN imediatamente, o país precisará de outras formas de segurança. Zelensky apresentou um “plano para a vitória” que inclui o apoio dos EUA e da União Europeia para proteger recursos naturais essenciais e fortalecer a dissuasão contra a Rússia por meio de meios não nucleares. Embora Trump tenha sido informado sobre esse plano, as garantias de segurança ainda são incertas. Hegseth, em sua intervenção, descartou o envio de tropas americanas para a Ucrânia, mas fontes do Reino Unido indicam que os EUA poderiam considerar fornecer sistemas de defesa aérea, como mísseis Patriot, caso seja estabelecida uma força de paz no país. A busca por uma solução para garantir a segurança da Ucrânia continua sendo um dos maiores desafios nas negociações de paz.