Especialistas alertam que, apesar do custo-benefício, alternativas caseiras não substituem o whey protein industrializado
A mistura de proteína de soja, cacau e leite em pó tem se tornado popular nas redes sociais como uma alternativa caseira ao whey protein, com a promessa de oferecer um custo-benefício mais acessível. Contudo, especialistas alertam que essa combinação não deve ser chamada de “whey caseiro”. A razão é que o verdadeiro whey protein é feito a partir do soro do leite, um processo industrial altamente complexo e difícil de reproduzir em casa. A nutricionista Patrícia Campos Ferraz explica que, embora essa mistura possa oferecer proteínas, ela não possui as características do whey original.
De acordo com Michele Trindade, nutricionista e vice-presidente da Associação Brasileira de Nutrição Esportiva (ABNE), o whey protein passa por um processo de filtração e desidratação para separar as proteínas do soro do leite, algo impossível de ser feito em uma cozinha doméstica. Portanto, a melhor descrição para a mistura caseira seria “proteína em pó” ou “mistura proteica”, sem a associação com o nome “whey”.
Além da dificuldade de reproduzir o processo industrial, a mistura caseira também tem diferenças significativas quando comparada ao whey. A principal delas está na quantidade e composição dos aminoácidos. A proteína de soja, por exemplo, é mais pobre em leucina, um aminoácido essencial para o crescimento muscular. Embora o leite em pó na mistura possa compensar essa deficiência, ele não iguala a composição do whey, como afirma Trindade, que destaca a dificuldade de replicar a formação de proteínas do leite com alternativas vegetais.
Outro ponto importante é que, em termos de quantidade de proteína, a mistura caseira também não chega a atingir os níveis do whey protein. Para obter a mesma quantidade de proteína, seria necessário consumir o dobro de extrato de soja, o que pode prejudicar o custo-benefício da alternativa caseira. Michele Trindade também alerta que a mistura caseira tende a ser mais calórica, devido ao conteúdo de carboidratos proveniente do cacau e leite em pó.
A velocidade de absorção das proteínas também varia entre os dois produtos. A proteína de soja é absorvida de maneira mais lenta, o que pode diminuir sua eficácia na recuperação muscular imediata. A proteína do soro do leite, por outro lado, é rapidamente utilizada pelo corpo, facilitando a construção muscular após o exercício. Embora essa diferença de digestibilidade não impacte de forma significativa na síntese proteica, a rapidez do whey pode ser um fator relevante para atletas.
Por fim, apesar das vantagens do whey protein em certos contextos, como em atletas, idosos com sarcopenia ou pessoas com dificuldades alimentares, os especialistas alertam para o uso excessivo de suplementos. A maioria das pessoas consegue atender às suas necessidades diárias de proteína por meio de uma dieta balanceada, com ovos, leite, carnes e grãos. O consumo de suplementos, como o whey, deve ser indicado por um profissional, especialmente em casos específicos como aumento de massa muscular ou situações de perda de peso.