Escritora e acadêmica falece aos 85 anos no Rio de Janeiro, deixando um legado profundo na literatura e nas questões de gênero
A escritora e acadêmica Heloisa Teixeira faleceu nesta sexta-feira (28), aos 85 anos, no Rio de Janeiro, após complicações relacionadas a uma pneumonia e insuficiência respiratória aguda. Natural de Ribeirão Preto, Heloisa estava internada na Casa de Saúde São Vicente, na Gávea, quando não resistiu às complicações. Ela teve uma carreira distinta e foi uma das mais importantes figuras no campo da literatura e do feminismo no Brasil, além de ser uma crítica literária respeitada.
Em 2024, Heloisa Teixeira foi eleita para a Academia Brasileira de Letras (ABL), assumindo a cadeira 30, anteriormente ocupada pela escritora Nélida Piñon. Com essa eleição, ela se tornou a décima mulher a integrar a ABL, marcando um feito significativo para as mulheres na literatura brasileira. Sua trajetória acadêmica foi sólida, com graduação em Letras Clássicas pela PUC-Rio, mestrado e doutorado pela UFRJ, e pós-doutorado em Sociologia da Cultura na Universidade de Columbia, em Nova York.
Recentemente, Heloisa fez uma mudança significativa em sua vida pessoal e profissional, alterando seu sobrenome de casada, Buarque de Hollanda, para Teixeira, nome de solteira e de sua mãe. Em uma entrevista ao jornal O Globo, ela explicou que a decisão foi influenciada pelo feminismo, refletindo uma nova percepção sobre sua identidade. “Tem uma hora que a ficha cai, principalmente, com a coisa feminista. De repente, falei: ‘Caraca, tenho o nome do marido’”, disse ela.
Ao longo de sua carreira, Heloisa se destacou como professora e pesquisadora, sendo diretora do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC) na UFRJ, além de coordenadora do Laboratório de Tecnologias Sociais e do projeto Universidade das Quebradas. Ela foi uma referência no estudo da relação entre cultura e desenvolvimento, com forte atuação em áreas como poesia, relações de gênero e culturas marginalizadas, além de ser uma das pioneiras na análise do impacto das novas tecnologias na produção cultural.
Além de seu trabalho acadêmico, Heloisa teve uma atuação importante no campo da curadoria e da produção cultural. Ela foi responsável pela direção da Aeroplano Editora e Consultoria, da Editora UFRJ e do Museu da Imagem e do Som (MIS-RJ). Também esteve à frente de programas culturais como Culturama, na TVE, e Café com Letra, na Rádio MEC. Sua trajetória inclui a direção de documentários e curadoria de exposições relevantes sobre cultura periférica e feminismo, temas centrais em seu trabalho.
Entre os livros mais significativos de sua autoria estão:
- “26 Poetas Hoje” (1976), uma coletânea revolucionária que trouxe à tona poetas marginalizados como Ana Cristina Cesar, Cacaso e Chacal.
- “Macunaíma, da literatura ao cinema”
- “Cultura e Participação nos anos 60”
- “Pós-Modernismo e Política”
- “O Feminismo como Crítica da Cultura”
- “Guia Poético do Rio de Janeiro”
- “Asdrúbal Trouxe o Trombone: memórias de uma trupe solitária de comediantes que abalou os anos 70”
- “Escolhas, uma autobiografia intelectual”
- “Explosão feminista – arte, cultura, política e universidade”
- “Feminista, eu?”