Valor da amêndoa subiu 190% em dois anos na Bolsa de Nova York, enquanto o setor enfrentou seu terceiro ano consecutivo de déficit na produção global em 2024.
A Páscoa de 2025 pode ser marcada por uma realidade com menos chocolate e ovos mais caros, devido à alta nos preços do cacau, que atingiram um pico histórico no final de 2024. O preço da tonelada de cacau na Bolsa de Nova York chegou a US$ 11.040, o que representa um aumento de 163% em relação ao mesmo período do ano anterior. Esse cenário preocupante é reflexo dos problemas climáticos nas principais regiões produtoras do mundo, localizadas na África, que representam cerca de 70% da oferta global da amêndoa.
A principal responsável por esse aumento é a queda na produção em países como a Costa do Marfim, que sozinha responde por 45% do cacau mundial. O clima severo, como a estiagem e as chuvas fora de época, além de pragas e doenças, tem afetado diretamente as lavouras. Esse problema é agravado pela falta de renovação das plantações, já que muitas árvores de cacau estão envelhecidas e menos produtivas. Essas condições impactam diretamente os preços, já que o cacau é uma commodity e seu valor é determinado no mercado internacional.
Para o mercado brasileiro, que é o sexto maior produtor mundial de cacau, a situação também não é favorável. O país sofre com uma produção insuficiente para atender à demanda interna, o que leva à necessidade de importação do produto. O impacto é especialmente sentido na indústria de chocolate, com o aumento do preço das amêndoas e a diminuição da produção interna, que já havia enfrentado dificuldades devido a doenças e pragas, como a podridão parda, que afetou lavouras na Bahia.
Com a alta no preço do cacau, muitos produtores de chocolates buscaram alternativas no ano passado para minimizar o impacto sobre os consumidores, como reduzir o tamanho das embalagens e diversificar os produtos oferecidos. No entanto, com o estoque de cacau comprado no final de 2024, quando os preços estavam no auge, será mais difícil evitar repassar esses custos aos consumidores na Páscoa deste ano. Além disso, a produção de ovos de chocolate será menor, com uma previsão de 45 milhões de unidades fabricadas, uma queda de 22,4% em relação a 2024.
O impacto desse aumento no preço do cacau é visível nos produtos de chocolate que já subiram de preço ao longo do ano passado. Segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o preço do chocolate em barra e bombons subiu 16,53%, enquanto o chocolate em pó e achocolatados tiveram um aumento de 12,49%. A indústria de chocolate tem tentado driblar esses custos, oferecendo opções de produtos com diferentes tamanhos e combinações, como chocolates com frutas e amendoins, para atrair os consumidores.
Apesar do cenário de alta nos preços e da menor produção de ovos, as expectativas para o mercado em 2025 ainda são incertas. Especialistas esperam que a produção de cacau melhore na safra mundial, especialmente na África, o que pode levar a uma redução nos preços. No entanto, o clima e as condições nas lavouras continuam sendo fatores-chave que determinarão a trajetória dos preços nos próximos anos. O mercado brasileiro, por sua vez, busca alternativas para aumentar a produção, mas ainda levará anos até que o setor se recupere plenamente.