Orquestra Sinfônica da USP vai executar obras de Ravel e Beethoven

Neste sábado, dia 5, às 16 horas, a Orquestra Sinfônica da USP (Osusp) abre sua agenda de concertos deste mês com a exibição de obras de Maurice Ravel, Terry Rilley e Ludwig van Beethoven. Grátis, o concerto será realizado no Anfiteatro Camargo Guarnieri, na Cidade Universitária, em São Paulo.

Na ocasião, a Osusp contará com a participação de dois convidados especiais, o maestro alemão Knut Andreas e o violinista italiano Francesco D’Orazio. 

De Ravel, a Osusp vai executar Tzigane – Rapsódia de Concerto para Violino e Piano. Do compositor norte-americano Terry Riley será ouvida Zephir. Já de Beethoven, a orquestra apresentará Sinfonia nº 4 em Si Bemol Maior, Op. 60O concerto faz parte da série Esculpir o Tempo – Convidados Osusp

Outras duas apresentações da Osusp já estão programadas para este mês. No dia 12, sábado, às 16 horas, também pela série Esculpir o Tempo, o convidado será o maestro Luís Otávio Santos. O público poderá conferir a interpretação das obras Concerto Grosso em Lá Menor, Op. 6, nº. 4, de Georg Friedrich Handel, e Stabat Mater, de Giovanni Battista Pergolesi.

No dia 26, também sábado, às 16 horas, sob a regência de Tobias Volkmann, pela série Concertos da Torre do Relógio, a Osusp exibirá Cello Canon, de Libby Croad, Toronubá, de Dimitri Cervo, Sinfonia nº 6, Op. 68, também conhecida como Sinfonia Pastoral, de Ludwig van Beethoven, Les Moutons de Panurge, de Frederic Rzewski, e Oferenda Musical: Ricercare a 6, de Johann Sebastian Bach, com orquestração de Anton Webern.

Saiba mais em: https://prceu.usp.br/noticia/serie-de-concertos-gratuitos-osusp-agosto/ e também no programa Cultura na USP, exibido ao vivo pela Rádio USP (93,7 FM), às quintas -feiras, das 12 às 13 horas, disponível posteriormente no Spotify (clique aqui).

O concerto da Orquestra Sinfônica da USP com o maestro Knut Andreas e o violinista Francesco D’Orazio será neste sábado, dia 5, às 16 horas, no Anfiteatro Camargo Guarnieri (Rua do Anfiteatro, 109, Cidade Universitária, em São Paulo). Entrada grátis. Os ingressos podem ser adquiridos na plataforma appticket. A Osusp sugere ao público a doação de alimentos não perecíveis e de agasalhos, que serão doados a comunidades do bairro do Butantã, vizinho à Cidade Universitária.

Por Elcio Silva/Jornal da USP

Censo mostra que 90% dos municípios com maior número de residências fechadas estão no semiárido

Na região semiárida do Brasil, que compreende os nove Estados do Nordeste e o norte de Minas Gerais, estão localizados 90% dos municípios com maior número de residências permanentemente fechadas, de acordo com os dados do Censo Demográfico de 2022. Além disso, o levantamento também indica que o crescimento populacional do semiárido de 3,7% ficou abaixo da média nacional de 6,5%. 

Jurandyr Ross, geógrafo e professor do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, explica que o fenômeno no semiárido não tem relação direta com as mudanças climáticas. “A ocupação do seminário vem sofrendo, ao longo do tempo, um certo esvaziamento demográfico, que é crônico e que está relacionado com questões sociais”, esclarece o geógrafo.  

Principais causas

O processo demográfico diagnosticado com os dados do Censo 2022 é apontado por Ross como continuidade de uma tendência causada pelas condições climáticas do semiárido e dificuldades socioeconômicas. Dessa forma, o geógrafo comenta que a busca por estudo e trabalho incentiva o deslocamento populacional interno para regiões com maiores oportunidades e, consequentemente, os números de residências permanentemente fechadas na região.

“O clima em si dificulta as atividades agrícolas, mas também há outras questões, como os pontos de atração para os jovens em cidades litorâneas em função do emprego relacionado ao desenvolvimento do turismo”, discorre Ross. Além disso, o geógrafo menciona que as migrações também se destinam para o Centro-Oeste, Amazônia e Pará em busca de trabalho. 

Histórico 

A região semiárida, mais especificamente a nordestina, é extremamente marcada por movimentos migratórios, tanto permanentes quanto temporários. Ross nota, todavia, que nos últimos anos a população rural, sobretudo os idosos e crianças sem pais, ou seja, aqueles que não possuem condições de irem para os polos de atração, tem deixado suas residências para viver em pequenas vila ou cidades. 

“Aqueles fluxos tradicionais do Nordeste para o Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, ou seja, para cidades grandes do Sudeste, é um fluxo que acredito que não seja o mais importante hoje”, afirma Ross ao justificar que não existem tantas oportunidades de trabalho. Nesse cenário, a população se dedica à economia informal em suas próprias localidades. Como exemplo, o geógrafo menciona as comunidades que se estabelecem ao longo de estradas e se desenvolvem a partir de atividades comerciais das mais diversas com caminhoneiros que atravessam a área. 

As políticas assistencialistas também acompanham o histórico da região semiárida, como o Bolsa Família, Bolsa Gás, entre outros. O geógrafo explica que tais políticas, apesar de contribuírem para a melhora da condição de vida das pessoas, apresentam um impacto limitado e precisam estar acompanhadas de mudanças nas políticas públicas voltadas para a saúde, educação e moradia. 

Perspectivas

Apesar de o fenômeno demográfico atual não ter relação direta com a emergência climática, os efeitos deste a longo prazo podem potencializar o esvaziamento da região semiárida. De acordo com Paulo Artaxo, professor titular do Departamento de Física Aplicada da USP, a mudança climática já está intensificando o aumento das temperaturas e a redução da precipitação.

Além disso, o professor indica que a região do semiárido brasileiro é particularmente sensível devido à sua localização tropical e a muitas áreas urbanas, como Teresina. Com as mudanças climáticas, Artaxo aponta que a previsão de alterações de temperatura variam de 4ºC a 4,5ºC. “Assim, onde o verão já acontece a temperaturas da ordem de 42 graus, quando essas temperaturas atingirem, por exemplo, 48 ou 49 graus, o impacto será muito difícil nas atividades econômicas e na saúde da população da região”, alerta o professor. 

Por Raquel Tiemi/Jornal da USP

Por que a malária predominante no Brasil é menos grave que a variante africana?

O microrganismo causador da maior parte dos casos de malária no Brasil, o Plasmodium vivax, induz a uma resposta imune diferente da espécie predominante na África, o Plasmodium falciparum, e isso ajuda a explicar por que a gravidade da doença é menor no País. É o que aponta um estudo dos Laboratórios de Direcionamento de Antígenos para Células Dendríticas e de Imunidade da Malária, Genômica e Populações do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP. O artigo, publicado no European Journal of Immunology, baseou-se em amostras coletadas de pacientes infectados com Plasmodium vivax após o diagnóstico e 28 dias depois do início do tratamento.

O estudo analisou o comportamento dos linfócitos, as células do sistema imune do organismo, e mostrou importantes diferenças entre os mecanismos de imunidade das duas espécies. O Plasmodium vivax é a espécie predominante no Brasil — representa 80% dos casos do País, de acordo com um boletim epidemiológico publicado pelo Ministério da Saúde em maio de 2022 —, além de ser mais antigo em comparação à espécie que hoje predomina no continente africano, o Plasmodium falciparum.

“Nós sabíamos que a malária falciparum induz a uma resposta imune muito intensa, que pode matar o paciente. Queríamos entender com mais detalhes como se desenvolve a resposta imune na malária vivax”, afirma a professora Silvia Beatriz Boscardin, coordenadora do laboratório e do estudo.

Sílvia Boscardin – Foto: Arquivo Pessoal

Além de induzir a um quadro de malária mais grave, a resposta imune ao Plasmodium falciparum parece não ser muito bem regulada. Por outro lado, o estudo mostra que o Plasmodium vivax induz a uma resposta melhor regulada durante a fase aguda da doença.

“No caso do Plasmodium falciparum, a literatura identificou linfócitos T auxiliares foliculares (Tfh) do tipo Th1, que são pouco eficientes em induzir linfócitos B a produzir anticorpos protetores. Já no nosso estudo com o Plasmodium vivax, detectamos, além dos linfócitos Tfh do tipo Th1, linfócitos Tfh do tipo Th2, que atuam melhor nessa tarefa”, explica Silvia Boscardin.

Os pesquisadores observaram isso ao analisar sistematicamente diferentes populações de linfócitos T e B no sangue de pacientes durante a fase aguda da doença ou após a resolução do tratamento. “Após o tratamento dos pacientes, foi possível observar quando houve alterações nas populações de linfócitos e estudar como esse comportamento se difere do que já foi publicado para o Plasmodium falciparum.”

Foram coletadas amostras de 38 pacientes em Mâncio Lima, no Acre, considerado o município com o maior número de casos de malária por habitante no Brasil (521 diagnósticos a cada 1.000 moradores, segundo levantamento do Ministério da Saúde em 2017).

Tratamento eficaz

No Brasil, o tratamento contra a malária possui alta eficácia, sendo obrigatório e fornecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Esse é um dos fatores que garantem a baixa taxa de mortalidade da doença no País, bem como a pouca resistência em relação aos medicamentos.

“Contra a malária, temos fármacos bastante eficazes. Entretanto, em diversos países, especialmente no Sudeste Asiático, já tem sido descrito o aparecimento de resistência. No Brasil, ainda há poucos relatos”, conta Silvia Boscardin.

Imunizante adequado

A pesquisadora destaca que a vacina para malária disponível atualmente é eficiente apenas contra o Plasmodium falciparum, não apresentando efeitos contra o Plasmodium vivax. Segundo ela, o tipo de descrição realizada no estudo pode ser útil, futuramente, no desenvolvimento de um imunizante específico contra o parasita predominante no Brasil.

“São microrganismos que, apesar de causarem uma doença muito parecida, e terem ciclos parasitários semelhantes, são geneticamente muito diferentes, e isso deve ser levado em conta na hora de desenvolver uma vacina. Aqui, no Brasil, temos estudos pré-clínicos e um ensaio clínico deve começar em breve”, complementa.

Mais informações: e-mail sbboscardin@usp.br, com Silvia Boscardin

*Da assessoria de comunicação do ICB, com edição de Valéria Dias

**Sob supervisão de Moisés Dorado

Mosquito Anopheles sp., vetor da malária – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Prefeitura anuncia investimentos de mais de R$ 10 milhões para triplicar parque de inovação tecnológica

Com as 72 empresas instaladas hoje no Supera Parque, o polo criado em parceria pela USP, a Prefeitura de Ribeirão Preto e a Secretaria de Desenvolvimento do Estado de São Paulo gera, hoje, mais de 600 empregos. Em breve, o local vai receber mais duas novas empresas, uma na área de nanotecnologia e outra no setor de curativos 3D, com alta capacidade de cicatrização. Neste terça-feira (1/8), durante a assinatura dos documentos de cessão dos terrenos a essas duas empresas, o prefeito Duarte Nogueira anunciou um investimento de mais de R$ 10 milhões da Prefeitura, ainda neste ano, para a infraestrutura de novos terrenos.  

“Acreditamos no grande potencial de Ribeirão Preto para o setor tecnológico. Foi assim que concretizamos, junto com a USP e tantos empreendedores inovadores, os 600 empregos gerados atualmente no Supera Parque”, explicou Nogueira, durante o evento, na sede do Supera Parque. A ideia é triplicar a área com infraestrutura para a recepção de novas empresas de natureza tecnológica, sobretudo na área da saúde, para a qual temos vocação natural, além de tantas outras. Assim, além de gerar postos de trabalho qualificados neste segmento, fortalecemos cada vez mais nossa região como referência para o ecossistema de tecnologia e empreendedorismo”, completou.

Assim como os 72 empreendimentos já instalados no local, as empresas que acabam de chegar ao loteamento poderão interagir com as startups do ecossistema e com os laboratórios da USP. Os lotes, situados na avenida principal do parque tecnológico, contam com infraestrutura de iluminação e água e esgoto, cabendo às empresas os investimentos para construção de seus prédios ou galpões.

A cessão do Lote 44, com 870 m², foi para a empresa In Situ Terapia Celular, e a cessão do lote 18, que mede 4,1 mil m², foi para a Yosen Nanotechnology. As duas receberam a cessão por 20 anos, renováveis por mais 20, e são empresas inovadoras de base tecnológica. Nos próximos meses, essas empresas já estarão se instalando, construindo suas sedes, contratando mais pessoas e ampliando seus negócios.

Também participaram da assinatura das cessões dos lotes o presidente do Supera Parque, Dr. Sandro Scarpelini, e o vice-coordenador da Agência USP de Inovação, Prof. Dr. Emanuel Carrilho.

“Pra nós, é uma grande honra receber aqui duas empresas egressas do nosso parque tecnológico, em mais um sinal de que estamos no caminho certo”, comentou Scarpelini, referindo-se ao fato de que tanto a In Situ como a Yosen foram incubadas no Supera Parque, embora a área de loteamento seja reservada não somente às incubadas no polo, mas sim a todas as empresas de inovação tecnológica interessadas em se instalar num ambiente colaborativo.

Para comprar seus lotes ali, as duas empresas, como as demais instaladas no loteamento, participaram de um processo de triagem, tendo que cumprir todas as normas e qualificações exigidas em edital, publicado pela USP no começo deste ano, no caso desta última cessão.

SUPERA PARQUE

Integrando universidades, institutos de pesquisa, startups e empresas de base tecnológica por meio da troca de conhecimento e tecnologias, o Supera Parque de Inovação e Tecnologia é gerido pela Fipase (Fundação Instituto Polo Avançado da Saúde).

O polo tecnológico fica no campus da USP de Ribeirão Preto, onde abriga a Supera Incubadora de Empresas, o Supera Centro de Tecnologia, a associação do Arranjo Produtivo Local (APL) da Saúde, o Polo de Inovação em Software (Piso) e o Supera Centro de Negócios.

USP tem curso gratuito de noções básicas do Direito para a população com mais de 60 anos

A Faculdade de Direito de Ribeirão Preto (FDRP) da USP promove o curso gratuito Noções Gerais de Direito a partir do dia 2/8, quinzenalmente, às quartas-feiras, das 14h às 15h, na sala C-21. 

O curso faz parte do programa USP 60+que tem como objetivo possibilitar às pessoas com mais de 60 anos ampliar o conhecimento em áreas do seu interesse, promovendo a integração entre a população 60+ e a USP, e aborda temas diversificados relacionados ao Direito. 

As inscrições vão até o dia 24/7 e devem ser realizadas, presencialmente, na sala sala D-310 da FDRP. Os interessados devem levar o original e a cópia do RG no ato da matrícula. 

Mais informações, clique aqui ou ligue (16) 3315-9128.

Por Filipe Capela/Jornal da USP

Universidades de SP têm melhores avaliações do Brasil em rankings internacionais

Em junho, a Universidade de São Paulo subiu 30 posições no QS World University Ranking 2024, da consultoria britânica especializada em ensino superior Quacquarelli Symonds (QS). Com isso, ela foi eleita a 85ª melhor do mundo e se tornou a primeira brasileira a entrar no top 100 – entre mais de 3 mil.

E neste mês, a Universidade Estadual Paulista foi a melhor brasileira avaliada em um levantamento publicado pela consultoria britânica Times Higher Education, que considera apenas universidades “jovens” – com menos de 50 anos de existência. Na listagem mundial, a Unesp ficou colocada na faixa entre 301ª e 350ª posição.

A Times Higher Education também fez um levantamento da América Latina levando em conta todas as universidades. Neste ranking, USP e Unicamp dominaram o top 3, ao lado da Pontifícia Universidade Católica do Chile.

As instituições se destacam por aliarem ensino e pesquisa de excelência e com impacto social. Os índices também avaliam o impacto comercial e o valor industrial das pesquisas desenvolvidas.

Além dos rankings, alunos da USP se destacaram também na competição mundial de foguetes universitários Spaceport America Cup, que aconteceu no fim de junho nos Estados Unidos. O Projeto Júpiter, equipe de foguetemodelismo da Escola Politécnica (Poli), ficou em segundo lugar com o foguete Juno III.

Neste ano, seis universidades estaduais atendem 246,8 mil alunos, entre graduação, pós, mestrado e doutorado, com investimento previsto de R$ 16,7 bilhões em todo o ano.

Via Governo de São Paulo

Carência ou excesso de alimentos no início da vida pode levar a doenças na fase adulta

Alterações no tecido adiposo materno durante o desenvolvimento fetal, provocadas tanto por carência quanto por excesso de ingestão alimentar, podem levar a doenças metabólicas na fase adulta. Esse é o alerta de um artigo publicado na revista Nature Reviews Endocrinology, que descreve os inúmeros mecanismos envolvidos em um conceito conhecido como programação metabólica – em que células do tecido adiposo (adipócitos) regulam a exposição a nutrientes, trazendo consequências de longo prazo.

“São dois casos opostos, mas que seguem mecanismos idênticos: a reprogramação metabólica. Filhos de mulheres que passaram fome na gravidez tendem a nascer com baixo peso e desenvolver hipertensão, alterações na resposta ao estresse, problemas cardíacos, maior propensão a diabetes e aumento da resistência insulínica. Na outra ponta, filhos de mulheres com obesidade gestacional tendem a nascer com alto peso, mas também a apresentar problemas metabólicos na fase adulta”, explica José Donato Júnior, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP).

No artigo, a partir de diferentes estudos – alguns deles conduzidos por seu grupo de pesquisa –, o pesquisador junta as peças para esclarecer a intrincada relação entre os adipócitos e a reprogramação metabólica. O trabalho é apoiado pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), por meio de um Projeto Temático.

O entendimento desse passo a passo pode auxiliar a estabelecer estratégias futuras para a prevenção e o tratamento de doenças metabólicas, como diabetes, obesidade, hipertensão e dislipidemia (colesterol alto). “Entender esses mecanismos possibilita que intervenções sejam feitas, pois a manipulação de hormônios do tecido adiposo pode ser o embrião de futuras terapias. Veja o caso do diabetes gestacional, por exemplo: a despeito de sua alta prevalência, ainda não existe uma terapia. A indicação é controle da dieta e, se não for suficiente, administrar insulina, o que é extremamente adipogênico [favorece a formação de novos adipócitos] para a mãe e o bebê. A responsabilidade fica muito em cima das mães. Parece que não damos a mesma atenção para os cuidados maternos que damos a outras doenças”, avalia o pesquisador.

Dois lados de uma moeda

Donato explica que, por muitos anos, o tecido adiposo – as famosas gordurinhas – foi considerado um mero depósito de energia, onde a gordura era armazenada para ser usada quando necessário. Essa visão, no entanto, começou a mudar com os estudos que descobriram que o tecido adiposo produz hormônios importantes para o controle do metabolismo, como a leptina e a adiponectina. A essa classe de compostos deu-se o nome de adipocinas. São essas substâncias que fazem a intermediação entre a saúde da gestante e o desenvolvimento dos filhos, sobretudo em uma área de pesquisa chamada “origens desenvolvimentistas da saúde e doença” (DOHaD, na sigla em inglês).

A relação entre alimentação materna e doença dos filhos quando adultos foi observada pela primeira vez durante a chamada “fome holandesa”, que ocorreu na Segunda Guerra Mundial, após o exército nazista cortar o suprimento de alimentos para o país.

Nesses primeiros estudos, sugeriu-se que a carência alimentar das mães levava a um atraso no desenvolvimento dos filhos, como resultado de um processo adaptativo ao baixo nível de nutrientes que recebiam durante a fase fetal e o início da vida.

A linha de pesquisa, que começou com estudos sobre desnutrição, avançou nas últimas décadas para a obesidade. “Vamos supor que, anos depois, esse mesmo indivíduo que passou por uma programação metabólica comece a ter acesso a alimentos altamente palatáveis, ultraprocessados e cheios de calorias. O organismo que estava adaptado para lidar com a escassez se depara com o excesso. Talvez isso ajude a explicar a epidemia de obesidade que temos atualmente”, diz.

De acordo com Donato, estudos mais recentes têm mostrado também que a obesidade materna, a diabetes gestacional e o ganho de peso excessivo durante a gravidez produzem no feto um efeito parecido com o da desnutrição, por também afetar a sensibilidade e os níveis de leptina e adiponectina circulantes na mãe e no feto. “Alguns dos hormônios ligados ao tecido adiposo estão baixos ou apresentam alteração em sua ação, como é o caso da leptina, que promove a adaptação do gasto de energia relacionada à escassez ou ao excesso”, comenta.

Donato ressalta no texto que a leptina provavelmente programa o metabolismo do bebê no início da vida, controlando o desenvolvimento de neurônios que regulam o balanço energético, induzindo mudanças permanentes na preferência por alimentos hiperpalatáveis e diminuindo o gasto energético.

Já os efeitos da adiponectina ocorrem na mãe e na placenta, regulando a exposição fetal a nutrientes e, consequentemente, o crescimento e a nutrição fetal, trazendo consequências de longo prazo para o metabolismo e a predisposição a doenças.

É o que os cientistas chamam de mudanças epigenéticas, ou seja, modificações bioquímicas nas células ocasionadas por estímulos ambientais que promovem a ativação ou o silenciamento de genes sem provocar mudanças no genoma do indivíduo. No caso das adipocinas, elas são capazes de alterar a capacidade de alguns genes serem mais ou menos expressos e também fatores de transcrição que, por sua vez, afetam genes relacionados a como as proteínas interagem com o DNA.

“Preencher essa lacuna de conhecimento é particularmente relevante no que diz respeito às alterações epigenéticas em órgãos que controlam o metabolismo, como o cérebro, o tecido adiposo, o fígado e os músculos. Entender e identificar os mecanismos específicos afetados pela sinalização de adipocinas que levam à programação metabólica são de fundamental interesse para orientar o desenvolvimento de estratégias futuras para prevenir e tratar a obesidade, diabetes e suas inúmeras comorbidades”, afirma o pesquisador.

Via Governo de São Paulo